29 de abril de 2015

One-Armed Swordsman (Espadachim de um Braço/1967)

onearmedswordmanO Espadachim de um braço (Jimmy Wang) enfrenta seus inimigos.
Assim como o espadachim cego Zaitochi foi um marco no cinema japonês, o Espadachim de um Braço marcou profundamente o cinema de Hong Kong. Produzido pelo estúdo Shaw Brothers Studio, o filme foi o primeiro de um novo estilo de se contar histórias wuxia com anti-heróis como protagonistas, e violentos e sangrentos duelos de espadas. Sucesso de público, One-Armed Swordsman foi o primeiro filme de Hong Kong a arrecadar mais de HK$ 1  milhão com bilheteria local, impulsionando Jimmy Wang ao estrelato.
O gênero de artes marciais é o mais prolífico gênero do cinema asiático, recheado de personagens marcantes que superam os limites humanos. Um sub-gênero bastante popular é o wuxia (武侠) que mistura artes marciais, fantasia e romance de época. Em tradução literal wuxia significa herói marcial. O universo onde se habita esses personagens é chamado de jianghu (江湖; literalmente rios e lagos). Nesse mundo, os artistas marciais que seguem caminho do xia (侠 em tradução literal: heróico, honrado, fidalgo) buscam corrigir atos errados, lutar pela justiça, derrotar opressores ou buscar redenção por erros do passado.
É neste caminho que Fang Kang (Jimmy Wang) mergulha após perder seu braço em um duelo sem armas com Pei-Er, a filha mimada de seu mestre. Após esse incidente, ele decide abandonar a Academia da Espada Dourada. Porém com o ferimento aberto, ele perde sangue e ao atravessar uma ponte cai no rio. Para a sorte de Kang, ele caiu na barca da bela Hsiao Man (Chiao Chiao) que atravessava o rio naquele exato momento. Sob os cuidados de Hsiao Man, Fang Kang descobre um manual de uma arte marcial secreta que o faz tornar um imbatível espadachim mesmo com apenas um braço.
Claro que por ser um filme da década de 1970, a ambientação possui diversas limtações com a maioria dos cenários internos e externos sendo feitos dentro de estúdio com bastante isopor e madeira. Apesar disso, é inegável a qualidade técnica da obra. Essas limitações são compensadas pela rica trama de One-Armed Swordsman que adiciona diversas camadas de complexidade ao personagem principal. Este é um filme sobre o perdão, lealdade e maturidade, embora recheado de sangrentas cenas de lutas de espadas. Apesar de Jimmy Wang não ser um artista marcial como Bruce Lee ou Jet Li, o diretor Chang Cheh foi um gênio ao faze-lo parecer intimidante e hábil com a espada.
O personagem badass de Jimmy Wang é tão icônico quanto o personagem de Clint Eastwood nos filmes de Sergio Leone. Ambos são movidos por um código de ética e chutam bundas de seus adversários sem piedade. O segundo não obteve reconhecimento imediato, principalmente pelo gênero western nunca ter sido popular nos EUA. Porém a trágica história de superação do espadachim sem um braço que aprende a ser um exímio lutador de artes marciais compele a todos os amantes do gênero de artes marciais.
Hong Kong Feelings: 4,5/5
Título original: 獨臂刀 (Duk Bei Dou)
Diretor: Chang Cheh
Elenco: Jimmy Wang Yu, Pan Yin-Tze, Chiao Chiao, Wong Chung-Shun, Tin Fung, Guk Fung,Lau Kar-Leung, Yeung Chi-Hing, Tong Gaai, Yen Shi-Kwan, Yuen Cheung-Yan, Yuen Woo-Ping

25 de julho de 2014

2046 (2046–Os Segredos do Amor/2004)

2046 Faye Wong interpreta uma androide que sente as emoções com atraso.

Extasiado com o sucesso de In the Mood for Love, Wong Kar-Wai retorna aquele universo construído pelo amor não consumado de dois amantes. O diretor extrapola diversas ideias trabalhadas no filme ganhador da Palma de Ouro e outras que ficaram de fora. O visual do filme remete a uma nostálgica Hong Kong da década de 1960, com o mesmo esmero cinematográfico da obra original.

2046 é uma continuação direta, porém oblíqua, de In the Mood for Love. O personagem principal é o Mr. Chow, interpretado novamente pelo fabuloso Tony Leung. 2046 é o número do quarto do hotel em In the Mood for Love, onde os amantes Mr. Chow e Mrs. Chan se encontravam para escrever as novelas, porém neste filme é o trem expresso que leva as pessoas ao distante ano de 2046 onde o passageiro pode encontrar suas memórias perdidas mas sem jamais poder retornar ao presente.

Acompanhamos a relação amorosa de Mr. Chow com quatro mulheres, enquanto tentamos entender por que o personagem se transformou em um mulherengo que se perde em suas memórias e no tempo tentando revisitar o amor perfeito que nunca se concretizou. Wong Kar-Wai explora seus tradicionais temas sobre o amor, mas dessa vez flerta com o gênero da ficção científica. A belíssima trilha sonora transita entre músicas da década de 60 e composições que remetem a Blade Runner. Porém, o resultado final é um filme saturado demais pelos inúmeros romances infrutíferos, e pelas mais variadas referências à cultura pop e históricas.

O grande destaque do filme é o reencontro entre Faye Wong e Wong Kar-Wai. Em seu primeiro papel, como a garçonete de uma lanchonete, a atriz havia arrebatado o coração com sua eletrizante atuação. De lá para cá, sua carreira de atriz foi pontuada por poucos papéis, mas mesmo assim a sua química com Tony Leung se manteve intacta. Já Zhang Ziyi entrega a sua melhor atuação desde que despontou em Hidden Dragon, Crouching Tiger (2000). A sua personagem é dotado de personalidade forte o suficiente para aceitar que está sendo usada por Mr. Chow, pois a recíproca é igualmente verdadeira. Por fim, nesse hall de personagens femininas temos uma misteriosa mulher de preto interpretado pela estonteante Gong Li que fará com que Chow resgate memórias de um passado borrado e indistinto.

A narrativa fragmentada dificulta o entendimento das diversas histórias que não necessariamente obedecem uma ordem cronológica, o que exige futuras revisitas ao filme para compreender suas diversas passagens e nuances. No entanto, a experiência de revisitar aqueles personagens não é tão recompensadora. Se em In the Mood for Love Wong Kar Wai oferecia uma dose agridoce do amor, em 2046 a dose é amarga.

Hong Kong Feelings: 3,5/5

Título Original: 2046

Diretor: Wong Kar-Wai

Elenco: Tony Leung Chiu-Wai, Gong Li, Takuya Kimura, Faye Wong, Zhang Ziyi, Carina Lau Ka-Ling, Chang Chen, Wang Sum, Siu Ping-Lam, Maggie Cheung Man-Yuk, Thongchai McIntyre, Dong Jie, Miao Feilin, Farini Chang, Berg Ng Ting-Yip

15 de junho de 2014

Metade Fumaça (1999)

metadefumaça Eric Tsang e Nicholas Tse andam por Hong Kong com um piano roubado.

Depois de um exílio de 30 anos no Brasil, o temível Mountain Lion retorna à Hong Kong em busca de vingança e de sua amada. Ele recruta o jovem Smokey na busca de seu nêmeses Nine Dragons para um acerto de contas final.

Metade Fumaça são diversas histórias que se entrelaçam entre os dois personagens principais. Smokey (Nicholas Tse) é zé ninguém que tenta guiar Mountain Lion (Eric Tsang) em uma Hong Kong contemporânea. Ele mesmo tem suas preocupações como ajudar a mãe (Elaine Kam) a encontrar o seu pai, lidar com uma namorada instável (Jo Kuk) e seu amor platônico por uma jovem policial (Kelly Chan).

O que une os personagens de Eric Tsang e Nicholas Tse é o que partilham em comum: a ilusão do amor. Há um sentimento de irmandade pois ambos são membros da tríade, ou pensam ser, por viverem nesse mundo. Eric Tsang oferece uma das melhores atuações de sua carreira. Seu personagem é instigante, pelo seu passado obscuro e pela senilidade no presente. A fragilidade da memória de Mountain Lion é o fio condutor da história, a medida que ele tenta se lembrar da amada (Shu Qi) com quem lutou contra Nine Dragons à trinta anos atrás, mas acabou perdendo.

Nicholas Tse demostrava ser um ator de muito potencial, ao interpretar o ingênuo Smokey. A atuação de Terence Yin é totalmente inspirada em Michael Wong ao misturar frases em inglês e cantonês, o que é péssimo pois a qualidade da atuação é tão ruim quanto a do último. Há aparições de diversos atores consagrados que elevam a qualidade do filme como Anthony Wong. A personagem de Sandra Ng, Third Sister, é uma pequena paródia a sua personagem Thirteen Sister em Young and Dangerous. Sam Lee e Stephen Fung aparecem em uma das melhores cenas do filme como as versões mais jovens de Nine Dragons e Mountain Lion.

Às referências à cultura brasileira são um pouco decepcionantes, principalmente na trilha sonora com músicas estrangeiras inspiradas no MPB, ao invés de ir na fonte inspiradora. Apesar disso, a tentativa de Eric Tsang de falar alguns palavrões brasileiros é estupidamente hilário.

Metade Fumaça é um filme leve, sem muitas ambições. Porém consegue ser uma pequena gema com seus personagens interessantes e singelos. O segundo filme do diretor Riley Yip não é um típico filme de tríade que aprendemos a amar com diretores renomados como John Woo e Ringo Lam. Metade Fumaça está mais para um filme de Wong Kar-Wai, sem o mesmo apuro artístico. Ainda sim o mais interessante é acompanhar jornada de Mountain Lion e Smokey do que os seus destinos.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título Original: 半支煙 (Buun Zhe Yin)

Diretor: Riley Yip Kam-Hung

Elenco: Eric Tsang Chi-Wai, Nicholas Tse Ting-Fung, Shu Qi, Kelly Chan Wai-Lam, Jo Koo, Sandra Ng Kwun-Yu,Elaine Kam Yin-Ling, Anthony Wong Chau-Sang, Stephen Fung Tak-Lun,Sam Lee Chan-Sam, Terence Yin(Wan Chi-Wai), Wan Yeung-Ming,Michael Chan Wai-Man, Vincent Kok Tak-Chiu, Cheung Tat-Ming, Stephen Tung Wai, Tony Ho Wah-Chiu, Lam Chi-Sin

21 de abril de 2014

Young and Dangerous Reloaded (Jovens e Perigosos: A Nova Ordem/2013)

YNDR Nova geração da Sociedade Hung Hing.

Ho-Nam, Chicken, Pou Pan e Tin-Yee são quatro jovens que deixam a escola para serem tríades. Eles acabam cruzando o caminho de Ugly Kwan, quando atacam seu protegido que havia estuprado a prima de Tin-Yee. Sob a ira de seu nêmese, o grupo encontra a proteção de Uncle Bee, onde aprenderão sobre honra e companheirismo.

Em termos de história, Young and Dangerous Reloaded é mais fiel ao material original. Porém, isso não resultado em maior qualidade. Apesar do roteiro ser mais coeso, a direção é péssima. Daniel Chan adotou o mesmo estilo de direção de Andrew Lau, mas com um resultado mais refinado próximo do que Ang Lee fez em Hulk. Porém o resultado é muito estilo para pouca substância.

O momento chave do filme é mal construído, onde Ho-Nam deveria escolher entre amor ou a vida de tríade. Him Law é tão apático quanto Ekin Cheng, porém o último ao menos é mais ator que o primeiro. Ekin Cheng conseguia ser carismático em alguns momentos, enquanto que Him Law mostra total insegurança e desconforto no papel mais importante de sua carreira. Assim como no original, o personagem Ho-Nam é ofuscado por Chicken. Para o lugar de Jordan Chan, Oscar Leung foi escalado. Em certos momentos, Oscar parece emular a interpretação de Jordan Chan, porém não é capaz de criar uma personalidade forte igual o último.

Esta nova encarnação da série apresenta o mesmo problema da adaptação anterior: um vilão mais carismático que toda a trupe liderada por Ho-Nam. Sammy Sum foi o elegido para ser Ugly Kwan, interpretado pelo icônico Francis Ng. Apesar de não ser tão épico, Sammy Sum consegue ser detestável como Ugly Kwan. Do outro lado temos Uncle Bee como mentor de Ho-Nam. Interpretado por Paul Wong, ele tem

Young and Dangerous Reloaded não é exatamente um remake do filme dirigido por Andrew Law e co-estrelado por Ekin Cheng e Jordan Chan. Apesar de cometer alguns erros iguais aos filmes originais, este filme é mais uma nova leitura das revistas em quadrinho que deu origem a série de filmes mais popular do cinema de Hong Kong na década de 1990. Algumas aparições especiais agradarão aos fãs da série original. Além disso temos uma dose de violência e nudez que surpreende e agrada, trazendo um tom mais sombrio ao filme. A cena final apresenta um importante personagem da série que cria uma expectativa para que a sequência corrija os problemas do filme.

Hong Kong feelings: 3/5

Título Original: 古惑仔:江湖新秩序 (Goo Wak Jai: Gong Wu Sun Dit Jui)

Diretor: Daniel Chan Yee-Heng

Elenco: Him Law, Oscar Leung Lit-Wai, Dominic Ho Hou-Man, Lam Chi-Sin, Philip Ng Won-Lung, Paul Wong Koon-Chung, Sammy Sum Chun-Hin, Michelle Hu, Jacqueline Chong Si-Man, Winnie Leung Man-Yi, Denise Ho Wan-Si, Sin Lap-Man, Joman Chiang Cho-Man, Felix Lok Ying-Kwan, Jim Chim Sui-Man, Bob Lam, Timmy Hung Tin-Ming, Tam Ping-Man, Simon Lui Yu-Yeung, Calvin Poon Yuen-Leung, Alex Man Chi-Leung, Kimmy Tong Fei

2 de março de 2014

Born to be King (Jovens e Perigosos 6/2000)

borntobekings Hail to the kings!

Young and Dangerous se tornou um fenômeno da cultura pop local. Todos os filmes da série foram sucesso de bilheteria, o que rendeu no total seis filmes e quatro spin-offs ao longo de quatro anos. Born to be King foi produzido com o desafio de trazer um final satisfatório para a série Young and Dangerous.

Filmes como A Better Tomorrow, de John Woo, e City on Fire, de Ringo Lam, transformaram os filmes de tríade no gênero mais importante da indústria na década de 80. No início da década de 90, houve uma saturação do gênero devido ao excesso de filmes de baixa qualidade lançados. A ascenção de Stephen Chow como o rei da comédia também colaborou para o seu declínio.

Apesar de estar a anos-luz dos filmes de John Woo, os filmes foram produzidos com o objetivo de serem entretenimento puro para uma audiência mais jovem. Porém Young and Dangerous foi responsável por popularizar esse gênero em decadência. Mais do que isso transformou duas jovens estrelas em mega astros.

Ekin Cheng e Jordan Chan se transformaram em queridinhos pela mídia de Hong Kong. A parceria entre os dois sempre foi o ponto alto de Young and dangerous. E neste sexto filme não é diferente. Chicken foi planejado para ser somente um personagem coadjuvante. Porém a popularidade do personagem foi tamanha que a cada filme, ele ganhava mais em importância.

Neste filme, a história é claramente focada no personagem de Jordan Chan. Chicken é nomeado para ser líder da Sociedade San Suen em Taiwan, porém existe uma rejeição por conta de seus laços com a Sociedade Hung Hing, que tem Ho-Nam como seu novo líder. No meio de tudo isso, Chicken e Ho-Nam acabam sendo envolvidos nas disputas internas de uma Yakuza. Roy Cheung retorna para interpretar mais uma vez um vilão, dessa vez interpreta o braço direito do clã Yamada.

Born to be King se esforça em ser um filme de tríade, com uma história intrincada sobre disputa de poder entre as máfias orientais. O filme claramente tenta ser um filme de tríades, investido menos no melodrama e mais nos personagens. No fim cumpre com seu papel de ser um filme pipoca.  Sendo o último filme da série, Born to be King encerra satisfatoriamente as aventuras de Ho-Nam e Chicken. E de quebra consegue ser o melhor filme da série.

Hong Kong feelings: 4/5

Título original: 勝者為王 (Sheng Zhe Wei Wang)

Diretor: Andrew Lau Wai-Keung

Elenco: Ekin Cheng Yi-Kin, Jordan Chan Siu-Chun, Shu Qi, Gigi Lai, Sonny Chiba, Peter Ho Yun-Tung Jerry Lamb Hiu-Fung, Chin Kar-Lok, Jason Chu Wing-Tong, Michael Tse Tin-Wah, Roy Cheung Yiu-Yeung, Sandra Ng Kwun-Yu, Wan Yeung-Ming, Blacky Ko Sau-Leung, Spencer Lam Seung-Yi, Chan Chung-Yung, King Shih-Chieh, Anya, Alex Man Chi-Leung.